-Desaparece! – gritei desesperadamente.
Relembrar a dor que senti após aquele momento de desespero, era como estar numa piscina, sem ter pé, prestes a afogar-me. Por mais que esbracejasse, não me movimentava e a única solução era desistir de batalhar e, por fim, deixar-me morrer. Constantemente recordava toda aquela dor, agora inexistente em mim.
Mais uma vez deixei-me cair em memórias, sentada no canto mais profundo do meu quarto, mantendo os joelhos bem juntos ao peito, como se de uma criança me tratasse. Por incrível que pareça, a uma única forma de atenuar a dor, era infiltrar-me na mente de uma criança e, imaginar como é que ela reagiria, se o mesmo se passasse com ela. Com certeza que nem dariam por aquilo acontecer ou, então, fariam uma birra no momento e, depois, tudo passava.
Por mais que quisesse não conseguiria nunca pensar como uma criança. Desde miúda que os meus pais afirmam ter concebido uma intelectual que, mesmo antes de ser uma catraia, já pensava como uma mulherzinha. Talvez por isso, me deixe afectar tanto. Tudo me afecta e me emociona. Desde velhotes com um baixo nível de iliteracia que me perguntam se posso, por exemplo, ler um horário de autocarro; a um casal de eternos apaixonados, de mãos dadas, e a espalhar sorrisos por tudo o que é sítio.
Mudei muito na minha puberdade. Sinceramente, penso que estou melhor do que aquilo que antes era. No passado, agora nublado e muito pouco nítido, não passava de uma adolescente inútil que, como todas as outras miúdas, apenas pensava em namorar com o rapaz das revistas, e casar com o meu jogador de futebol favorito. Enfim, palermices. Hoje em dia, não passo de uma adolescente que adopta tudo como uma grande responsabilidade e que foge das relações amorosas a sete pés. Não gosto de nenhum tipo de compromissos, desde compromissos de trabalho a compromissos afectivos.
Não sinto necessidade de me ligar a alguém emocionalmente, embora sinta que, por vezes, preciso de um alguém do sexo oposto me faça sentir uma princesa, a pessoa mais feliz do mundo; tal como imagino que, as raparigas da minha idade se sentem quando estão com aquele que dizem amar… Pois sim. Muita gente neste mundo diz amar sem sequer saber o que é esse sentimento e o que isso implica. É que, embora pareça, o amor não é apenas um barco a vaguear no mar calmo. Muitas das vezes, esse barco, é afectado por tempestades arrebatadoras e, excessivas vezes, acaba por ir ao fundo, sem qualquer bilhete de retorno à superfície.
O mundo não é perfeito e não o vejo dessa maneira. Também não sou pessimista por natureza. Apenas vejo o mundo como realmente é, sem colocar nele nenhum toque de magia para o tornar melhor. Sem dúvida que prefiro mentalizar-me de que algo está mal, desde o início, do que fantasiar em torno de um mundo perfeito inexistente. Não faz parte da minha natureza fingir que algo não está lá e que não me afecta quando me magoa profundamente.
Se todos os males do mundo fossem os males amorosos, penso que, embora o planeta fosse muito melhor, a nossa sociedade acabaria louca. Os mais insensíveis não compreendem o que falo, mas os sentimentalistas, em parte, concordam comigo. Agora pensem, pessoas menos afectivas, o que era o mundo sem amor? Será que conseguia-mos viver sem sentir esse tão famoso sentimento? (desculpem o grande desabafo)

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