Hoje foi mais um daqueles dias stressantes na cidade de New York. O trânsito rompia a cidade e congestionava as saídas. Foi mais uma manha desperdiçada no trânsito. Era nestas manhas de grande corrupio que, no meu carro, eu viajava no tempo até á Cornualha.
Mais uma vez, os companheiros de aventuras dirigiram-se ao riacho. Desta vez Diana estava de castigo, logo fomos apenas os dois. O João e eu.
Nunca disse a ninguém, mas mantinha uma paixão secreta por ele desde criança. Sempre foi o meu melhor amigo, ajudou-me sempre que precisei.
Como estávamos sozinhos, achei a melhor altura para contar todo aquele sentimento que me consumia interiormente há tanto tempo. Chamei-o.

- João!
- Diz Sofia…
- Eu…eu…eu amo-te!


Por momentos a buzina de um automóvel transportou-me de novo para o presente, mas não demorou muito para eu regressar novamente ao passado.

- Põe os lábios assim – disse-me o João com voz doce enquanto exemplificava o gesto.
- Mas isso dói?
- Não! Tem te disse tamanha parvoíce? – perguntou surpreso com a minha pergunta.
- Sabes João, a minha avó Mary conta lá aquelas suas histórias de quando ainda era nova e, um dia, disse que, num daqueles antigos bailaricos da Cornualha, conheceu um rapaz e, sem ele lhe tocar, o coração dela já doía de amor – fiz uma pausa - O meu vai doer também? – perguntei preocupada.
-Deixa-te levar. Põe os lábios na posição que te ensinei, do resto trato eu. Se o teu coração doer, eu cuido dele, confia em mim.
-Oh João, eu não sei se… - o som das palavras ainda se estavam a formar quando ele me tocou com os seus lábios húmidos e quentes, suavemente moldados nos meus.

Senti um nervoso miudinho, as minhas mãos tremiam, no meu estômago apareceram aquelas famosas borboletas de que todos falam e das quais eu ainda não sabia a sensação. O meu coração parou, a nossa respiração ficou ofegante e rápida. Agarrei-o com força e puxei-o para mim… não queria que terminasse…

Terminada a viagem, pela qual nem dei por passar, ainda tinha em mim os mesmos sintomas ardentes da paixão antiga. Liguei o rádio e deixei a mente vaguear.

-Vou-te fazer feliz a vida toda, Sofia!
-Vivo por ti! – Gritei-lhe em resposta enquanto saltava para a água suja do riacho.


Nunca deveria ter dado liberdade á minha mente para esta se perder em pensamentos. Cornualha. João. O meu peito apertara uma saudade imensa que estava disfarçada, mas que finalmente revelou a sua verdadeira intensidade e mostrou as dores que era capaz de causar.
Peguei no telemóvel e encostei-o ao peito á procura de algum conforto; á procura de uma resposta. Não sabia se era a coisa mais correcta a ser feita, mas afastei o telemóvel do meu corpo. Pousei-o.
Liguei o carro e acelerei. Queria apenas sair dali e deixar para trás aquelas lembranças. Fugir do passado para mim sempre foi a melhor solução apesar de nunca ter atingido o objectivo de o abandonar para sempre. Naquele momento, mais do que nunca, o objectivo estava irrealizável.
Estava desesperada a tentar encontrar uma maneira brilhante para afastar as memórias que me perseguiam. Abri totalmente a janela; queria sentir a brisa suave do vento na cara, queria que o meu cabelo esvoaçasse livremente, queria deixar o mundo para trás. Não aguentei mais, fiz uma manobra perigosa e parei o carro num quelho revestido de pedras, terra e ervas secas.
Pensei.
Pensei.
Finalmente ganhei coragem e decidi pegar no telemóvel para lhe ligar, simplesmente não aguentei mais a dor que tinha no peito. Marquei os dígitos e para finalizar carreguei na tecla verde e esperei que chamasse. Tremia.


-Estou? Quem fala? Sim?! Alô??! – perguntou ofegante. Consegui por instantes ouvir a sua pausada respiração. Fiquei a ouvir o único sinal de vida que ainda tinha do meu amor. – Sofia, és tu Sofia? Eu sei que és! Responde-me por favor!

2 comentários:

  1. Oooooooh, está mesmo muito bonito, sem palavras... quase que me fazias chorar... e a musica subiu mesmo na parte mais emocionante.. LINDOO!

    Ana Cris'

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  2. essa da música não sabia lol, mas ainda bem (:
    OBRIGADA ANA <3

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obrigada pela opinião (: